30 de setembro de 2010

Jogue as tranças, Rapunzel!



Sabe aquela garota chorosa, presa no alto de uma torre, que passava os dias penteando os cabelos e “jogando suas tranças” pela janela? Para quem se lembra de Rapunzel, muita coisa mudou – menos os seus cabelos. Eles continuam longuíssimos, mas a personalidade de uma das personagens mais famosas dos irmãos Grimm ganhou ares contemporâneos.

Sob o título de “Enrolados”, a animação feita em computação gráfica (e também em versão 3D) pela Disney tem uma pegada muito mais de ação e de comédia, do que a trama original, uma história de amor típica dos contos de fada. De fato, algumas alterações foram feitas para atualizar a obra. Rapunzel se apaixona por um ladrão (e não por um príncipe) que acidentalmente vai parar dentro de sua casa na torre. Com fios de cabelos que medem 22 metros de comprimento, ela mostra, inclusive, uma inesperada habilidade em artes marciais, a qual usa inicialmente para se proteger do intruso. Será ele que deve ajudar a princesa a finalmente conhecer o mundo do lado de fora?

Cena de Enrolados, nova animação da DisneyPrevisto para estrear no Brasil, a animação é uma das apostas de bilheteria da Disney para atrair um público pré-adolescente – e não só infantil. Tanto que a personalidade escolhida para dublar Rapunzel é a atriz e cantora pop Mandy Moore. Já o rapaz que invade a morada da princesa tem a voz de Zachary Levi, mais conhecido por seu trabalho na série “Chuck” (ele também tem experiência em dublagem e atuou no sucesso infantil “Alvin e os Esquilos”).

No comando do filme, no entanto, estão dois nomes pouco conhecidos do mundo cinematográfico - Byron Howard, codiretor de “Bolt”, e Nathan Greno, que faz sua estreia na função. Ficou curioso para saber o resultado dessa nova proposta para um conto de fadas tão popular? Aguarde janeiro do ano que vem.

 
 
 
Luciana Borges
 

Baixinhas e jeitosas




Uma das poucas coisas divertidas de que eu me lembro da separação dos meus pais foi ouvir minha mãe dizer que, depois de 20 anos, finalmente poderia usar sapatos altos de novo. Ela era um pouco mais alta que meu pai e evitava exacerbar a diferença usando saltos.

Essa história tem pelo menos 30 anos, mas acho que a dificuldade persiste. Altura ainda é uma questão entre casais. Poucas mulheres têm coragem de se envolver com homens menores do que elas. E há poucos caras com personalidade para sair na rua abraçado a uma mulher maior do que ele. Claro, milhões de casais que não cabem nessa regra, mas ela existe – e está sendo reforçada pela moda.

Ontem ao entrar numa loja de sapatos vi uma moça alta e magra experimentando um sapato com plataforma exagerada. Sem salto, ela teria 1,80. Com salto, ficava imensa e desengonçada. A moça estava insegura, mas a vendedora incentivava: “Está lindo, querida”. Não estava. Saí da loja pensando se havia um inferno para vendedores que mentem. Nas lojas as pessoas são movidas pelo desejo. Mas, de onde vem o desejo das mulheres de ficarem tão altas?

Nem toda mulher fica sensual de salto alto. Tem gente que fica só mais alta. Não adianta por salto enorme e andar com os joelhos dobrados. Elegância e sensualidade têm a ver com os movimentos. Gente de aparência rígida não seduz. Mulheres que se mexem com graça ganham pontos.

Quando eu era criança, minhas irmãs, já adolescentes, andavam pela casa de salto alto com um livro equilibrado na cabeça. Eu ria com aquilo, fazendo com que elas também rissem e derrubassem o livro. Não sei se esse treinamento ainda se aplica, mas possa afirmar que as minhas irmãs, depois de adultas, só vestiam salto alto para as festa de casamento.

Os brasileiros têm uma queda acentuada por mulheres pequenas e jeitosas. Somos um país de estatura média e nossos mitos eróticos estão abaixo disso. Desde sempre. Lembro da Carmem Miranda, Sonia Braga e Ana Paula Arosio. Todas pequenas. Carolina Dieckmann, outra moça linda,tem 1,60. Daniela Mercury, miúda. Outro dia me disseram que Shakira, a cantora mais desejada da América do Sul, tem 1,55. Só. Grande mesmo é Gisele Bündchen, que tem 1,79. Mas é inútil tentar se parecer com ela, não?

O fato é que sucesso no Brasil não depende de tamanho. Claro, um salto agulha alonga as pernas, empina o traseiro e dá, à maioria das mulheres, um ar mais sensual. Mas não precisa ser toda hora. Se uma moça baixinha aparece de salto na noite da festa, o impacto é enorme. Não tem de repetir o truque todo dia. Há o risco de banalizar.

Minha impressão é que cada um de nós tem uma medida de parceiro ou parceira que lhe cai bem. Existe até frase feita para isso: é o meu número. Quando você abraça, dá um encaixe. Quando dança, tudo combina. Quando deita, fica melhor. Achar bonita uma mulher alta não quer dizer que o seu corpo vá ficar feliz com ela. Olhar é uma coisa, transar pode ser outra, bem diferente.

Mas encaixe não quer dizer, necessariamente, baixinho com baixinha e alto com alto. Prefiro pensar nisso como a química do tamanho dos corpos. Qual é a sua? Seres humanos são flexíveis e as possibilidades de encantamento são infinitas. Importante, eu acho, é que cada um de nós descubra a sua própria elegância. As mulheres altas não precisam se curvar para parecer mais baixas. E as pequenas não deveriam se maltratar para ficarem maiores.

Graça não tem tamanho. Sedução é jeito e movimento. Com o passar do tempo, a gente descobre do que gosta e quem gosta da gente. Fato.


 Ivan Martins

29 de setembro de 2010

A gente se acostuma



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas e que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.

Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti

À procura da mulher bem resolvida




A mulher bem resolvida não anda por aí, dando sopa. É verdade. Porque mulher resolvida mesmo já resolveu tudo, inclusive com quem compartilhar o travesseiro. É independente, inteligente, bem sucedida e não é carente, já que para ser bem resolvida tem que começar resolvendo as coisas do coração. Mulheres que andam por aí, queixinho empinado e fazendo pose, não são bem resolvidas.

A mulher bem resolvida não posa, ela é. Já resolveu que pose não adianta; que cabeça dura não adianta, e fingir que não se emociona também não. Também já desistiu de debulhar lágrimas à toa, para tentar comover. Se fizer isso, é pessimamente resolvida. Houve quem achasse, na época do feminismo – que Deus o tenha ou que o diabo o carregue – que mulher bem resolvida era aquela que se resolvia sem homem.

E, antes delas, houve aquelas que achavam que só se resolveriam com homem. Nenhuma das duas se resolveu. Mulher (assim como homem) precisa experimentar uma relação estável para se resolver, aprender a necessidade de trabalhar um relacionamento todos os dias, de conquistar o ser amado a cada segundo.

Mas não pode se render totalmente a ele. Acho que foi Kahlil Gibran quem disse que uma união a dois é como duas colunas, que só sustentam uma edificação porque se mantém, ao mesmo tempo, juntas e separadas. A mulher bem resolvida sabe disso muito bem. Sabe que combinar diferenças é bom, lidar com antagonismos é bom.
É assim que a gente cresce e amadurece. Por isso, dentro de um relacionamento, ela se mantém íntegra fiel a si mesma, sem se desfigurar para agradar o outro. E, ao agir assim, a mulher bem resolvida acaba atraindo homens bem resolvidos, capazes de amar, se emocionar sem dar uma de durão ou virar chato pegajoso.

Os que não são bem resolvidos, assim você os reconhece, vivem oscilando de um extremo a outro, numa dança de bêbados. E nessa dança se agarram a outros na mesma situação e vão cambaleando pela vida. Sim, ser bem resolvida não é ficar pulando de galho em galho para se fingir de moderna.

Quem é de todo mundo e não é de ninguém está longe de ser bem resolvido. Porque para ser bem resolvida é preciso ser capaz de se entregar, é preciso ter coragem de enfrentar os desafios que uma vida a dois impõem, de cultivar uma planta extremamente caprichosa chamada intimidade. Intimidade é um negócio que só floresce com o tempo, que exige zelo e cuidado de jardineiros fiéis, determinados, perseverantes.

Mulheres bem resolvidas – e os homens que as amam – sabem cultivar intimidade e sabem que ela não brota do acaso de uma paixão, mas exige um solo limpo, fértil e cultivado de um amor construído, tijolinho por tijolinho. Claro que ser bem resolvida; ou bem resolvido não é uma situação assim estável, pronto, acabou. No fundo, no fundo, somos todos seres em processo, works in progress, resolvendo-nos passo a passo, à medida que descobrimos nosso espaço no mundo e a melhor maneira de nos posicionarmos nele.

Todo mundo cai de vez em quando, inclusive os que chamamos de bem resolvidos. A diferença é que uns ficam sentados se descabelando a beira do caminho quando alguma coisa dá errado. E outros se levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima. Você conhece alguma mulher bem resolvida? Ah, então me dá o telefone dela! Não é por nada, não. Só amizade. É que às vezes faz uma falta enorme conversar com gente assim!

 
 Wilson Bentos

28 de setembro de 2010

Sevilha, uma cidade em festa

 Sevilha, a capital da Andaluzia, com 700 mil habitantes é a quarta maior cidade da Espanha, mas é pequena o suficiente para, com disposição, percorrer boa parte dos seus pontos turísticos a pé – e, convenhamos - não há forma melhor de se conhecer uma cidade!
A cidade transmite orgulho pela cultura andaluz, expresso em algumas manifestações espanholas, como o flamenco. A influência árabe na região  é muito clara em vários pontos da cidade, marcada pela arquitetura moura. Abril a junho, com o clima mais ameno, são os melhores meses para apreciar a colorida cidade do sul da Espanha, com laranjeiras carregadas de frutos e  dezenas de bares  decorados com cabeças de touros, cartazes anunciando touradas, fotos de touros e toureiros, onde se servem tapas deliciosas.

Uma das principais atrações de Sevilha é sua catedral gótica e, principalmente, a Giralda, o minarete da antiga mesquita, cuja parte inferior data do século XII, assim como o Pátio das Laranjeiras, com as típicas laranjeiras da região. A Catedral, patrimônio da humanidade, é o maior templo da Espanha e o terceiro maior templo cristão, onde estão os restos mortais de Cristóvão Colombo. É possível subir até o topo da torre, a uma altura de 94 metros de altura. O acesso é por rampas de pedras, sem degraus; não é das subidas mais árduas e os panoramas da cidade justificam o esforço. Em 1558 o minarete foi transformado em um campanário cristão, recebendo ampliação e novo acabamento. Em meio à mistura de estilos gótico e renascentista, destaque para o altar-mor, com arte flamenca que levou 35 anos para ficar pronto e utiliza 2,4 toneladas de ouro.

O Real Alcázar e seus jardins disputam com a Giralda o título de atração mais popular de Sevilha. O conjunto histórico formado pelo Alcázar, pela Catedral e pelo Arquivo das Índias (onde estão guardados os documentos relativos aos Descobrimentos) é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Na realidade, são alcázares, os dois palácios, um gótico e outro mourisco. Com seus azulejos e trabalhos em madeira, o palácio mouro é lindíssimo. Tão lindo que dá até preguiça pegar um trem para ir ver o Alhambra, em Granada, a atração mais incrível e visitada da Espanha. Além disso, ali se encontram deslumbrantes jardins com muitas laranjeiras, limoeiros e fontes de água.

A Torre do Ouro, outro monumento emblemático da cidade, foi construída no começo do século 18, também pelos pelos almóadas (dinastia árabe), com função de vigilância, pra evitar possíveis invasões pelo rio Guadalquivir, que atravessa a cidade. Atualmente, abriga o Museu Naval, que conta a história de Sevilha como porto fluvial. Dali saiam os navios em direção à América, inclusive o de Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães. Tem este nome devido aos azulejos dourados que a recobriam e não ao ouro que chegava das embarcações, pois este tinha destino certo: a casa da moeda.

Nesse percurso, passa-se também pela Praça de Touros, do século 18, onde acontecem as polêmicas touradas, e que está também aberta à visitação. Em pequenos grupos acompanhados de um guia, os visitantes conhecem a arena e o Museo Taurino, aprendendo um pouco do funcionamento das touradas com exposição de roupas, cartazes de época e outras curiosidades.
O Parque Maria Luísa merece um fim de tarde por sua área. Suas construções chamam mais atenção do que a área verde. Obra-prima do barroco neoandaluz, a Praça de Espanha exibe conjuntos de azulejos pintados representando fatos históricos das principais cidades espanholas. Situa-se dentro do Parque onde é possível fazer um piquenique, alugar um triciclo ou uma charrete de cavalos brancos ou ainda visitar os museus adjacentes.

Para quem gosta de comprar, vale visitar a Calle Sierpes, continuação da Av. de La Constitución e outras ruas ao redor, como a Velázquez e a Tetuán. Nessa área, há muitas lojas de roupas, acessórios, maquiagem, perfumes, boa parte com preços bem interessantes. O calçadão da Calle de las Sierpes é ideal também para adquirir produtos típicos, como xales, leques, rendas e mantillas. Programa típico da noite, “la marcha” significa percorrer vários bares e bodegas, saboreando as apetitosas “tapas” e os deliciosos vinhos espanhóis.

Visite, no centro histórico de Sevilha, os Banhos Ares de Sevilha estão construídos sobre um antigo banho árabe e alguns vestígios romanos anteriores. Conservando características de seu passado, oferece uma experiência original, para viajantes curiosos. A casa palácio, que mais tarde abrigou os banhos públicos, foi construída no século XVI por um vice-rei da Índia. Atualmente, propõe três salas de banho, com as águas de alta temperatura, as frias, e as mornas. Também oferece um banho de sal, e uma sala de chá ao estilo árabe, para finalizar o roteiro.

Sevilha é mais ou menos isso: é passar a tarde na beira do Guadalquivir, tomando um tinto de verano (vinho tinto com Sprite), é ver as lojas fechadas pra siesta, é ver os espanhóis entupindo os bares à noite, com cerveja e sangria nas mãos, é ter dias de 20ºC no inverno e 44ºC no verão,  é ver a influência árabe a cada esquina, é comer churros com chocolate, é passear pelo centro histórico, é comer jamón, gaspacho e azeite de oliva, é sentir a vibração da alegria de um povo que, em muitos aspectos, se parece muito com os brasileiros.



Sem exagero, Sevilha pode ser considerada uma das cidades mais encantadoras da Europa. Imagine se surpreender a cada esquina pela riqueza cultural, que mescla influências de muitas origens, fruto das invasões sofridas. É uma cidade com alma moura e coração espanhol, tanto que construções árabes e renascentistas dividem quarteirões.





Luísa Ferreira 

Atire a primeira flor




Quando tudo parecer caminhar errado, seja você a tentar o primeiro passo certo.
Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto, acenda você a primeira luz,
traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada.
Quando todos estiverem chorando, tente você o primeiro sorriso; talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que compreenda, de braços que confortem.
Se a vida inteira for um imenso não, não pare você na busca do primeiro sim,
ao qual tudo de positivo deverá seguir-se.
Quando ninguém souber coisa alguma, e você souber um pouquinho,
seja o primeiro a ensinar, começando por aprender você mesmo, corrigindo-se a si mesmo.
Quando alguém estiver angustiado à procura, consulte bem o que se passa, talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja.
Daí, portanto, o seu deve ser o primeiro a aparecer, o primeiro a mostrar-se, primeiro que pode ser o único e, mais sério ainda, talvez o último.
Quando a terra estiver seca, que sua mão seja a primeira a regá-la; quando a flor se sufocar na urze e no espinho,que sua mão seja a primeira a separar o joio, a arrancar a praga, a afagar a pétala, a acariciar a flor.
Se a porta estiver fechada, de você venha a primeira chave.
Se o vento sopra frio, que o calor de sua lareira seja a primeira proteção e primeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e não estiver cozido, seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra.
De acusadores o mundo está cheio; nem, por outro lado, aplauda o erro; dentro em pouco, a ovação será ensurdecedora.
Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu; sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido.
Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém.
Quando tudo for espinho, atire a primeira flor; seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta, compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica, que o auxílio possibilita, que o entendimento reconstrói.
Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.


Glácia Daibert

Intimidade


Houve um tempo, crianças, em que a gente não falava de sexo como quem fala de um pedaço de torta. Ninguém dizia Fulano comeu Beltrana, assim, com essa vulgaridade. Nada disso. Fulano tinha dormido com ela. Era este o verbo. O que os dois tinham feito antes de dormir, ou ao acordar, ficava subentendido. A informação era esta, dormiram juntos, ponto. Mesmo que eles não tivessem pregado o olho nem por um instante.

Lembrei desta expressão ao assistir Encontros e Desencontros. No filme, Bill Murray e Scarlett Johansson fazem o papel de dois americanos que hospedam-se no mesmo hotel em Tóquio e têm em comum a insônia e o estranhamento: estão perdidos no fuso horário, na cultura, no idioma, e precisando com urgência encontrar a si mesmos. Cruzam-se no bar. Gostam-se. Ajudam-se. E acabam dormindo juntos. Dormindo mesmo. Zzzzzzzzzzz.

A cena mostra ambos deitados na mesma cama, vestidos, conversando, quando começam a apagar lentamente, vencidos pelo cansaço. Antes de sucumbir ao mundo dos sonhos, ele ainda tem o impulso de tocar nela, que está ao seu lado, em posição fetal. Pousa, então, a mão no pé dela, que está descalço. E assim ficam os dois, de olhos fechados, capturados pelo sono, numa intimidade raramente mostrada no cinema.

Hoje, se você perguntar para qualquer pré-adolescente o que significa se divertir, ele dirá que é beijar muito. Fazer campeonato de quem pega mais. Beijar quatro, sete, treze. Quebram o próprio recorde e voltam pra casa sentindo um vazio estúpido, porque continuam sem a menor idéia do que seja um encontro de verdade, reconhecer-se em outra pessoa, amar alguém instintivamente, sem planejamento. Estão todos perdidos em Tóquio.

Intimidade é coisa rara e prescinde de instruções. As revistas podem até fazer testes do tipo: “descubra se vocês são íntimos, marque um xis na resposta certa”, mas nem perca seu tempo, a intimidade não se presta a fórmulas, não está relacionada a tempo de convívio, é muito mais uma comunhão instantânea e inexplicável. Intimidade é você se sentir tão à vontade com outra pessoa como se estivesse sozinho. É não precisar contemporizar, atuar, seduzir. É conseguir ir pra cama sem escovar os dentes, é esquecer de fechar as janelas, é compartilhar com alguém um estado de inconsciência. Dormir juntos é muito mais íntimo que sexo.


Martha Medeiros

27 de setembro de 2010

Destino: Óbidos, Portugal

A história é tão bonita quanto o lugar. Óbidos é uma das vilas mais lindas e preservadas de Portugal. Em parte porque a trajetória desta cidadela protegida por uma alta murada de pedra é fortemente ligada à nobreza desde o século XIII, quando o rei Dinis se casou com Isabel de Aragão. Entre os presentes que o monarca deu à mulher estava... a vila de Óbidos inteirinha.

A tradição de ser dote real se estendeu até o século XIX. Essa ligação com os poderosos portugueses ajudou a conservar intacto o casario gracioso, com paredes caiadas e detalhes em azul ou amarelo, cenário típico lusitano. Para tudo ficar ainda mais belo, todas as fachadas são enfeitadas com flores, principalmente gerânios vermelhos e buganvílias roxas.


As construções antigas abrigam tudo o que um turista precisa para fazer  uma viagem prazerosa: há bons restaurantes, cafés, boas lojinhas de artesanato e galerias de arte cheias de charme,  muitas garrafeiras, como os portugueses chamam os lugares que vendem bebidas alcoólicas - entre as especialidades estão os vinhos e a ginjinha, uma espécie de licor feito a partir da ginja, um tipo de cereja selvagem, pequenina e muito saborosa, abundante na região.


Essa pequena e encantadora cidade medieval, localizada a 80 km ao norte de Lisboa é cercada por muralhas do tempo da ocupação dos Mouros e já cativa e o visitante logo ao entrar pelo Portal da Vila, a porta de entrada da cidade. O Portal é uma obra do Século XVII e tem como elementos decorativos azulejos do séc. XVIII e uma capela-oratório, avarandada, de arquitetura singular. Sobre o portal vê-se a inscrição "A Virgem Nossa Senhora foi concebida sem pecado original". Foi construído por ordem do Rei D. João IV como agradecimento pela proteção da Padroeira.

A Rua Direita, assim conhecida desde o século XIV, é a principal da vila de Óbidos e liga o portal ao Paço. Esta pequena e simpática vila foi conquistada por D. Afonso Henriques em 1148 e merece uma visita de algumas horas. Entre suas atrações há um belo castelo, hoje está uma das “Pousadas de Portugal”, e de onde se tem uma bela vista aérea de vinhedos e pomares, vales, outeiros e montes, já que Óbidos fica numa elevação.

A respeito do castelo sabe-se que foi D. Sancho I quem mandou reconstruir a muralha ocidental e construir a torre do facho, que tem algumas alvenarias romanas. No século XVII, este forte já se encontrava em mau estado e piorou significativamente com o terremoto de 1755, ficando parcialmente destruído.


Cada rua ou travessa tem recantos pitorescos e silenciosos nos quais podemos ouvir nossos passos e respiração. É tudo tranquilo e acolhedor, uma atmosfera de harmonia e paz. As casas caiadas de branco com barras coloridas, enfeitadas com flores, janelinhas com cortinas bordadas e rendadas, complementam com perfeição cada sobrado.

Logo ao entrar na cidade , passando o portal, suba na escadaria à sua esquerda, que o levará ao topo da muralha e de onde se tem uma  vista aérea da vila, talvez o ponto mais fotografado dela. Dá para se passear pelas muralhas - são cerca de dois quilômetros – tendo cuidado porque em certos pontos não há qualquer proteção. Cada ponto é um diferente mirante de onde se vêm telhados entremeados por torres e praças.

Não deixe de provar a excepcional bebida local “ginjinha de Óbidos” um delicioso licor típico, ou ao menos entre nesta aqui, epeça ao seu dono, um simpático jovem português, para orgulhosamente mostrar-lhe – emoldurado e exposto em destaque, na parede – um bilhete de Juscelino Kubtschek especial para a casa e para a vila, quando lá esteve. Seja gentil, retribua com um sorriso e tome uma ginginha.

A cidadela é um brinco, uma joia medieval. Só não faça como muitos turistas que visitam Óbidos a partir da capital portuguesa em excursões cansativas combinadas a outras atrações da região. A vila de Óbidos merece, no mínimo, um dia inteiro dedicado a ela. Porque é preciso muita calma para saborear a cidade, seu casario precioso, sua gastronomia, seus vinhos e suas histórias.


Fica relativamente movimentada o ano inteiro, especialmente no verão. E aos que apreciam celebrações religiosas vale saber que um dos períodos mais concorridos é a Semana Santa, quando Óbidos é palco de algumas das mais bonitas procissões em Portugal, com a cidade iluminada por tochas. É bom reservar as pousadas com boa antecedência, para evitar ficar desabrigado.


Infelizmente alguns carros circulam lá dentro, muitas vezes até com velocidade incompatível com o lugar. Talvez esse seja o único defeito de Óbidos - ao lado do excesso de turistas. Mas, ao menos, o fluxo constante de visitantes originou uma boa infraestrutura de restaurantes, pousadas, bares e cafés. Na parte da tarde,  é hora de se dedicar a explorar uma das maiores virtudes de Óbidos: a seleção de bons restaurantes. E apreciar a ginginha típica da região...

Os aviadores Ray-Ban



Nos anos 20, após a Primeira Guerra Mundial, a indústria de aviões, que primava pela construção de aeronaves modernas e capazes de alcançar altitudes impressionantes para a época, crescia de forma constante. Os pilotos eram prejudicados pela claridade excessiva do sol sobre as nuvens e sofriam distorções visuais.

A força aérea dos Estados Unidos encomendou a Baush & Lomb (empresa ótica americana fundada em 1849), lentes especiais para combater os danos criados pelos raios UV. Foram cerca de dez anos de pesquisas, mas finalmente foram criadas as lentes verdes de cristal especial capaz de refletir e bloquear um alto nível de luz solar, além de proteger contra os raios ultravioletas e infravermelhos.

O design foi inspirado nas primeiras máscaras criadas para pilotos de avião. Eles queriam algo que fornecesse a mesma proteção dos óculos de vôo, mas sem o mesmo peso e tamanho. Foi batizado como Anti-Glare Aviator e somente em 1937 passou a ser chamado de Ray-Ban (do inglês Ray-Banner ou Raios Banidos), ganhou armação dourada e imediatamente virou sucesso nas ruas do mundo inteiro. Com lentes verdes de cristal especial, eles refletiam e bloqueavam um alto percentual de luz visível como também os raios ultravioleta e infravermelho. Os óculos ganharam o apelido de "sombra do piloto".

Após mais de 70 anos, esses óculos de sol mantêm a popularidade e o mesmo modelo que os aviadores usavam em 1936. Ele é o queridinho e tem sido par constante das celebridades mais fashions e antenadas. Esse tipo de óculos agrada muito, porque tem uma característica que faz toda a diferença: é versátil e cai bem em qualquer formato de rosto.

Lembre-se de Kate Hudson no filme “Quase famosos”. Tom Cruise em “Top gun – ases indomáveis”. Brad Pitt em “Clube da luta”. Leonardo DiCaprio em “O aviador”. São óculos escuros eterna e universalmente modernos, que, de imediato, trazem consigo um fator elegante.

O aviador clássico é o da Ray-Ban, porém quase todo estilista, a preços diversos, fabrica uma boa versão. Carregado de estilo, traz uma sensação de liberdade, independência e audácia.

Curiosidades:

1 – A Ray-Ban pode ser considerada a dona dos dois mais populares modelos de óculos do mundo. O primeiro deles seria o Ray-Ban Aviator, seguido pelo Ray-Ban Wayfarer, com moldura de plástico, muito usado nos anos 60 (Kennedy, Bob Dylan) e 80 (Tom Cruise, Madonna). Muita gente famosa usa esse modelo até hoje, incluindo Jack Nicholson.
2 – Pode-se dizer também que os dois modelos foram os mais falsificados da história dos óculos.
3 – Um Ray-Ban Aviator original custa em média 200 dólares.
4 – O General-de-Exército Douglas MacArthur comandou os aliados na Guerra do Pacífico, crucial para definição da II Guerra Mundial, foi o primeiro militar de alta patente a adotar o Aviator. Casca grossa, MacArthur não era de obedecer ninguém. Foi despedido pelo Presidente dos EUA em 1951.
5 – A Bausch & Lomb já era uma empresa bem antiga quando lançou o Ray-Ban. Ela tinha sido fundada nos EUA em 1853 por dois imigrantes alemães, John Jacob Bausch e Henry Lomb.


26 de setembro de 2010

Hora de voar


E se você não puder incentivar-me para o salto, se você não puder empurrar-me em direção à vida, então não me segure, não me prenda, nem me amarre. Não envenene com teu medo a minha dança. Seja só uma silenciosa testemunha desta vertigem, porque agora, agora é hora  de voar, é hora de abrir-me a todas  as possibilidades, e saltar num vôo livre e sem destino para dentro de mim mesma.

Edson Marques

Frida Kahlo: a vida em fotos

 
A trajetória conturbada de uma das artistas mais importantes da América Latina ganhou tratamento de luxo em livro biográfico com 400 fotos, a maioria delas nunca vistas anteriormente, as quais retratam o universo pessoal e cotidiano de Frida Kahlo. A edição intitulada “Frida Kahlo: suas fotos” (Ed. Cosac Naify, R$120) – tem tiragem única no Brasil (portanto, – e lançamento simultâneo ocorrido em outros seis países (México, França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Espanha). Nas mais de 500 páginas estão imagens guardadas desde a morte da pintora, em 1954, na casa onde morava com Diego Rivera em Coyoacán, nos arredores da Cidade do México, e que é atualmente um museu em homenagem a ela.

As fotos mostram diversos autorretratos de Frida – desde a época em que era menina, além de imagens de seu pai, Guillermo Kahlo, que era fotógrafo, registros do trabalho que fazia em seu estúdio, bem como a intimidade da artista com nomes importantíssimos da cena cultural, como o poeta e escritor André Breton (um de seus melhores amigos), o pintor Marcel Duchamp e a poetisa brasileira Adalgisa Nery. O difícil relacionamento de Frida com Rivera, também pintor e entusiasta ativista político, marcado por traições de ambos os lados e conflitos envolvendo a auto-estima da artista, é um capítulo a parte com inúmeras fotografias somente sobre esse encontro.

Foi Diego quem guardou as fotos após a morta da mexicana. Já viúvo, deixou o material (em torno de 6 mil imagens) sob os cuidados da amiga Dolores Olmedo, para quem pediu que o mantivesse escondido por outros quinze anos após a morte dele. Essa temporada durou praticamente cinqüenta anos, sendo revelada apenas recentemente.

No livro é possível perceber a influência que o trabalho do pai teve na carreira de Frida, bem como a forma que sua figura foi construída, retrato após retrato, por ela mesma, de maneira a conter os momentos mais marcantes de sua vida pessoal – como o acidente que sofreu aos 18 anos, quando uma barra de ferro atravessou seu corpo após o acidente entre um ônibus e o bonde onde estava.

Sua existência esteve sempre ligada ao sofrimento pessoal, desde  a poliomielite que contraiu na infância, quando tinha seis anos de idade, até os abortos que acabou tendo por conta do acidente sofrido na adolescência. Entremeando essa verdadeira fotobiografia há textos de especialistas discutindo exatamente a influência desses acontecimentos na carreira da artista.

Com curadoria do mexicano Pablo Ortiz Monastério, o livro é dividido em sete temas – “Origens”, “Papai”, “A Casa Azul”, “O Corpo Dilacerado”, “Amores”, “A Fotografia” e “Luta Política”. Imperdível para conhecer melhor a vida dessa artista, dona de admiradores por todo o mundo e cujo talento se mostra cada vez mais precioso.


Por Luciana Borges

Mude



Mude,
mas comece devagar, porque a direção é mais importante
do que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.

 Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

 Tire uma tarde inteira para passear livremente no campo,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos...
Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... depois,
procure dormir em outras camas da casa.

Assista a outros programas de tv, compre outros jornais...
leia outros livros.
Não faça do hábito um estilo de vida.

Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.

Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, a nova vida.
Tente.

Busque novos amigos.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes,
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,
outro creme dental... tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro,
compre novos óculos, escreva versos e poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a vida é uma só.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.

Grite o mais alto que puder no espaço vazio.
Deixem pensar que você está louco.

Aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores
do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
A positividade que você está sentindo agora.
Só o que está morto não muda!



Edson Marques

25 de setembro de 2010

A princípio




De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vuitton e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando.Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par e não como pares? Ter um parceiro constante, não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo a expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente.

A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.


Martha Medeiros

Flor de Lótus



- Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais,
outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.

- Pois viva como as flores, advertiu o mestre.

 Como é viver como as flores? - perguntou o discípulo.

Pacientemente, o mestre explicou:

- Aprenda com a Flor de Lótus, elas nascem no esterco, entretanto, são  puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora... Isso é viver como as flores.


Autor: Desconhecido

 

24 de setembro de 2010

Para quê serve uma relação?



Definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação? "Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil". Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom, e merece ser desenvolvido.

Algumas pessoas mantém relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração. Uma armadilha.

Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo, enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio, sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada, uma pessoa bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro, quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

Autor: Drauzio Varella