15 de março de 2012

A casa de cada um




Nesta época de início de ano, gosto de tratar da vida. Dou a roupa que não uso mais. Livros que não pretendo reler. Envio caixas para bibliotecas. Ou abandono um volume em um shopping ou café, com uma mensagem: "Leia e passe para frente!". Tento avaliar meus atos através de uma perspectiva maior.

Penso na história dos Três Porquinhos. Cada um construiu sua casa. Duas, o Lobo derrubou facilmente. Mas a terceira resistiu porque era sólida. Em minha opinião, contos infantis possuem grande sabedoria, além da história propriamente dita. Gosto desse especialmente.

Imagino que a vida de cada um seja semelhante a uma casa. Frágil ou sólida, depende de como é construída. Muita gente se aproxima de mim e diz: Eu tenho um sonho, quero torná-lo realidade! Estremeço.

Frequentemente, o sonho é bonito, tanto como uma casa bem pintada. Mas sem alicerces. As paredes racham, a casa cai repentinamente, e a pessoa fica só com entulho. Lamenta-se.

Na minha área profissional, isso é muito comum. Diariamente sou procurado por alguém que sonha em ser ator ou atriz sem nunca ter estudado ou feito teatro. Como é possível jogar todas as fichas em uma profissão que nem se conhece?

Há quem largue tudo por uma paixão. Um amigo abandonou mulher e filho recém-nascido. A nova paixão durou até a noite na qual, no apartamento do 10º andar, a moça afirmou que podia voar. Deixa de brincadeira, ele respondeu. Eu sei voar, sim! rebateu ela. Abriu os braços, pronta para saltar da janela. Ele a segurou. Gritou por socorro. Quase despencaram. Foi viver sozinho com um gato, lembrando-se dos bons tempos da vida doméstica, do filho, da harmonia perdida!

Algumas pessoas se preocupam só com os alicerces. Dedicam-se à vida material. Quando venta, não têm paredes para se proteger. Outras não colocam portas. Qualquer um entra na vida delas.

Tenho um amigo que não sabe dizer não (a palavra não é tão mágica quanto uma porta blindada). Empresta seu dinheiro e nunca recebe. Vive cercado de pessoas que sugam suas energias como autênticos vampiros emocionais. Outro dia lhe perguntei: Por que deixa tanta gente ruim se aproximar de você?

Garante que neste ano será diferente. Nada mudará enquanto não consertar a casa de sua vida. São comuns as pessoas que não pensam no telhado. Vivem como se os dias de tempestade jamais chegassem. Quando chove, a casa delas se alaga. Ao contrário das que só cuidam dos alicerces, não se preocupam com o dia de amanhã.

Certa vez uma amiga conseguiu vender um terreno valioso recebido em herança. Comentei: Agora você pode comprar um apartamento para morar. Preferiu alugar uma mansão. Mobiliou. Durante meses morou como uma rainha. Quase um ano depois, já não tinha dinheiro para botar um bife na mesa!

Aproveito o início do ano para examinar a casa que construí. Alguma parede rachou porque tomei uma atitude contra meus princípios? Deixei alguma telha quebrada? Há um assunto pendente me incomodando como uma goteira? Minha porta tem uma chave para ser bem fechada quando preciso, mas também para ser aberta quando vierem as pessoas que amo?

É um bom momento para decidir o que consertar. Para mudar alguma coisa e tornar a casa mais agradável. Sou envolvido por um sentimento muito especial. Ao longo dos anos, cada pessoa constrói sua casa. O bom é que sempre se pode reformar, arrumar, decorar!

E na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o arquiteto da própria vida.



Walcyr Carrasco
 
 
 

11 comentários:

Marcela disse...

Muito lindo esse texto. Não conhecia.
E é nidificando que vamos nos acomodando no mundo.
Bjos

Unknown disse...

Lena: É sempre bom fazer alguma coisa de util e essa é uma forma simpatica de atrair as pessoas para partilhar com os outros.
Beijos
Santa Cruz

Rô... disse...

oi minha amiga querida,

esse texto do Walcyr me encantou,
como é importante cuidarmos das nossas reformas,
manter a casa sempre arrumada e agradável nos dá grande prazer...
muito lindo!!!

beijinhos

Claudia Caprecci disse...

Perfeito texto minha amiga!
E sempre há o que reformar, decorar,arrumar!
Ainda bem!
Grande beijo e abençoada quinta-feira!

Célia disse...

Bela crônica! Aplausos!
Sigo por aqui revendo minha construção! Bj. Célia.

Breve Leonardo disse...

Tão Grato pela partilha desta reflexão, fico, Amiga Minha!

E, infelizmente, a sua expressão "vampiro emocional" vai entrar no meu léxico diário pelos piores motivos: estou rodeado deles! :)

Um imenso abraço,

Leonardo B.

mfc disse...

Há sempre uma altura para se fazer um balanço... e eles são precisos!

Beijinhos.

Paty Michele disse...

Lena, querida, passando para dar um OI e deixar um beijão pra vc.

Imaculada disse...

Que texto sábio e reflexivo!
Achei lindo isso: Na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o arquiteto da própria vida.
Obrigada pela partilha!
Abraços! Uma tarde abençoada pra ti.

Sobre o Tempo disse...

Olá Lena! Belo texto, bela escolha. Tenha um ótimo domingo! Bjs

Palavras disse...

Oi Lena,

saudade de vir por aqui... desculpe a minha ausência, é a corrida da vida. Já estou retomando as rédeas...

Lindo texto do Walcir Carrasco. Gostaria de compartilhar. Muito bom!
Como sempre, voce escolhe muito bem tudo que posta aqui!

Beijos e boa semana!

Leila