27 de julho de 2012

Imaturidade, causa de muitos fracassos



A liderança é um fato natural e ocorre inevitavelmente por toda parte. Qualquer bando de pássaros tem um líder. Macacos, formigas, abelhas, todos os animais sociais tem seus líderes. 

Liderar significa dar um rumo. E não há ser humano que não seja líder em algum momento ou situação. Cada gesto nosso - se for visto por alguém como exemplo a ser seguido - é um ato de liderança. Liderar é influir sobre o rumo dos pensamentos e sentimentos dos outros, e fazemos isto o tempo todo. Tudo interage com tudo no universo. Há uma liderança recíproca entre todas as coisas e todos os seres. 

A vida humana é um processo social. Vivemos em grupos familiares, temos grupos de amigos, trabalhamos em equipe. Até mesmo no interior de cada um de nós há um grupo, porque ali estão as presenças sutis de todas as pessoas que marcaram profundamente nossa vida; e consciente ou inconscientemente nós as escutamos, falamos com elas, e elas exercem uma série de influências vivas sobre nós. 

Este campo de inter-relações é muito maior do que o reino humano. Quando estou caminhando sozinho por um local da natureza, estou de certo modo em grupo com as ervas, as árvores, o solo, os pássaros e as nuvens, porque a presença de cada um deles é significativa e diz alguma coisa para mim. Mas - como um animal ou uma folha de grama - estou em contato também com os seres do mundo celeste. Sou liderado pelas estrelas e planetas distantes. Junto com meus irmãos, os sapos e os pássaros, recebo a influência da Lua e obedeço ao ritmo da movimentação da Terra ao redor do Sol. O pensador Terêncio disse, no século 2 antes de Cristo: "Tudo que é humano me diz respeito". Eu gostaria de ampliar esta frase, dizendo: "Tudo que é humano, animal, vegetal, mineral ou divino me diz respeito, me influencia e é de certo modo influenciado por mim". 

Sem dúvida, agimos permanentemente sobre a vida dos outros seres, de modo claro ou sutil. Mas agimos, sobretudo, sobre nossa própria vida. Ser um líder de si mesmo não é sempre fácil, mas é inevitável. Sou meu próprio pai/mãe e mestre e senhor das minhas ações, embora às vezes esqueça isto. Eu é que decido se determinado obstáculo é, para mim, estimulante ou desanimador; se meu potencial é grande ou pequeno; e se a busca da sabedoria interior é algo fundamental ou secundário em minha vida. 

Gostamos de pensar que somos limitados pelas circunstâncias. Temos o hábito de atribuir nossos fracassos a causas externas. Mas, na verdade, o que nos dificulta a vida é nossa própria cegueira e a nossa falta de força de vontade e determinação. Se assumíssemos plena responsabilidade pelas nossas vidas, seríamos totalmente líderes de nós mesmos e isto nos daria uma base firme para influenciar de modo positivo os seres ao nosso redor. 

A nossa vontade de liderar, controlar e dirigir a vida em torno de nós vem, literalmente, do berço: o bebê que grita pela mamadeira na madrugada está liderando pai e mãe e influenciando todos os que o ouvem. O mesmo bebê, quando brinca feliz, enche de alegria as pessoas ao seu redor. Mas, à medida que crescemos, o processo de determinar o rumo dos acontecimentos se torna mais complexo e não basta mais gritar. Quando temos força interior, evitamos exigir demais dos outros. O líder que grita muito ou dá ordens em excesso mostra deste modo sua fraqueza. O papel do líder de um grupo - familiar, profissional ou qualquer outro - é manter sempre clara a meta comum e estimular o trabalho cooperativo em função do objetivo de todos. Mas o líder que pretende controlar e manipular a vida dos outros tropeçará cedo ou tarde na frustração, e verá que o método não é bom. 

Para alguns, a manipulação e a busca do poder ou da fama funcionam como mecanismo de fuga do fato central - e, para eles, assustador - de que não conhecem ou não aceitam a si mesmos. No entanto, ninguém consegue ser feliz manipulando outros. Por isso a sabedoria antiga diz que o primeiro passo para liderar verdadeiramente a si mesmo ou aos outros é mergulhar no silêncio interior e praticar o "jejum mental". 

Essa liderança espiritual direta, livre das palavras e mecanismos de controle e manipulação, está presente em diversas tradições, taoistas, budistas ou cristãs. Atualmente, os processos de liderança e relações humanas superam o exibicionismo individualista porque a eficiência é colocada acima das ilusões de grandeza pessoal. O novo líder não fica mais bêbado com suas próprias palavras. Ele desiste dos malabarismos verbais, e prefere estimular e admirar o crescimento verdadeiro de cada membro do grupo que lidera. O aplauso que os novos líderes buscam não vem de fora, mas de dentro das suas próprias consciências. 

Estamos compreendendo finalmente algo importante: os jogos e manipulações que giram em torno da vaidade só levam à frustração. E já vivemos o nascimento de uma nova liderança espiritual que servirá de base para a construção de uma civilização correta e duradoura a partir das primeiras décadas do século 21.

Helena Gerenstadt

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